segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O discurso abortista nas últimas décadas

Por Acauan Guajajara

Postado originalmente em 07/05/2008 às 19:22

A maior parte dos defensores do aborto não gosta muito de História das idéias, pois se gostasse veria que suas opiniões seguem orientações ditadas pelo modismo ideológico da época.

Assim, nos anos sessenta, tempo daquela conversa mole de amor livre, paz e amor, faça amor, não faça guerra, sexo, drogas e rock'n roll e outras genialidades tais, a tônica do discurso abortista era ditado pelo feminismo libertário, que tentava estabelecer com os homens, por vias artificiais, uma igualdade que a natureza negou a elas - a possibilidade de transar sem risco de ficar grávido – privilégio nosso que enfurecia as feministas a ponto de defenderem quaisquer medidas que corrigisse esta injustiça natural, aborto incluso.

Depois de algum tempo de revolução sexual, o fato de mulher poder ir para cama com quem e quando quisesse deixou de ser novidade e de dar IBOPE, assim, o discurso feminista sexualista libertário saiu de cena, substituído pelos slogans irados dos jovens mudadores do mundos de 1968 e seus sucessores, que requentaram aquela conversa surrada que vinha desde a Revolução Francesa, do discurso engajado pela libertação dos oprimidos, incluído aí libertar as mulheres da opressão da gravidez que lhes era imposta pela sociedade burguesa e machista.

Depois também cansou e veio um novo tempo, mais, digamos, humanista, intimista e sentimental, no qual os abortistas ergueram a bandeira da defesa das milhares, centenas de milhares, dezenas de milhões de mulheres que morriam todos os anos vítimas das terríveis mazelas do aborto clandestino e, por isto, proclamavam os mais nobres sentimentos de solidariedade com estas pobres que ansiavam que os insensíveis governantes aquiescessem ao urgente apelo daquelas massas sofridas.

Algo assim como o Dancin'Days, se é que alguém aqui lembra disto.

E finalmente, quando o clamor pelas milhões de vítimas do aborto clandestino se mostrava muito mais presente no discurso político que em qualquer evidência estatística confiável, surgiu o moderníssimo discurso cientificista que com base em avançadas técnicas diagnósticas descobriu a essência da identidade humana nos resultados de exames instrumentais e laboratoriais e decretaram, com o aval de suas opiniões, quem é gente e merece viver e quem não é e não merece.

Ano que vem alguém aparece com coisa nova, quem sabe...