quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A India de Kipling

Por Acauan

Fale-se o que quiser, e há muito o que se falar, sobre a colonização inglesa da Índia, mas duas das mais eficientes organizações de todos os tempos encontraram seu apogeu naquele lugar e época:

Imperial Civil Service e British Indian Army.

O serviço civil foi o mais notável e bem sucedido modelo de administração pública dos quais já ouvi falar.
Seus funcionários tinham a responsabilidade de prover a populações enormes e miseráveis os serviços sob responsabilidade da coroa britânica. Eram escalados para os mais remotos fins de mundo onde recrutavam, selecionavam e treinavam seus auxiliares entre a população local, analisavam necessidades, estabeleciam prioridades, destinavam recursos e com dedicação quase sacerdotal lograram estabelecer a presença da ordem britânica em cada fração do território da índia, coisa que nunca foi conseguido por nenhum império nos milênios de história daquela civilização.

Como exceção a regra geral, foram ao mesmo tempo os mais poderosos e os menos corruptos dos funcionários públicos, homens que diariamente tomavam decisões que influenciavam a vida de milhões de pessoas, comandavam operações milionários e em geral, no fim da carreira, voltavam para a Inglaterra para uma aposentadoria modesta e sem regalias.

Se o Serviço Civil já era surpreendente, o Exército Indiano era quase um milagre.

A simples idéia de formar tropas armadas compostas por nativos hindus, sikhs e muçulmanos parecia uma loucura cujo melhor resultado que se podia esperar era que os oficiais ingleses tivessem a chance de fugir enquanto os soldados das etnias e religiões rivais se matavam uns aos outros.

Houve que aqueles oficiais construíram um dos mais disciplinados e corajosos exércitos já criados, cujo valor só não foi plenamente reconhecido por conta dos preconceitos de raça vigentes entre os colonizadores.

Com todos os males que se pode apontar na colonização britânica na Índia, o fato é que os ingleses fizeram por lá em algumas décadas mais do que os marajás fizeram em séculos e muito melhor do que qualquer Nehru faria, tivesse o tempo que fosse a disposição.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Provando um argumento abortista como estúpido e sem-vergonha – parte 8 - Final.

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 30 Mar 2007, 16:38


Considerações finais sobre a sem vergonhice do argumento:

Assim sendo a designação de abortistas encaixa perfeitamente naqueles que querem que o aborto clandestino continue de boa saúde a tratar as mulheres e os fetos como se tratam as costelas de borrego num talho, efectuando sanguináriamente abortos em qualquer estado de gravidez, sem qualquer respeito por nada nem ninguém, onde impera o lucro. Assim facilmente se chega á conclusão que é muito mais simples abortar num país onde a lei o proíbe do que num país onde a lei o despenaliza e não liberaliza.

Abortistas são todos aqueles que compactuam com o aborto clandestino!

Por que o argumento é sem-vergonha:

O argumento é sem-vergonha porque defensores da legalização do aborto, quando lhes convém, se referem ao feto como "amontoado de células" ao qual negam identidade e dignidade humana, porém quando lhes interessa recorrem ao mesmo discurso sentimental que condenam veementemente quando utilizado por opositores da legalização do aborto, como evidenciado no parágrafo acima.

Assim, aqueles que jamais demonstraram compaixão pelos fetos destruídos em abortos legalizados, lamentam piedosamente aqueles que são "tratados como costelas de borrego num talho", como se melhor destino tivessem os que são sugados do útero por aspiradores ascéticos em clínicas elegantes, mantidas sob as bênçãos do Estado e os aplausos das organizações defensoras da legalização, a quem tentam atribuir o poder de decidir a partir de quando um ser humano tem o direito de viver.

É imoral a dicotomia obviamente falsa que sustentam como verdade absoluta e inegável, que só existem os extremos do aborto proibido onde todos os horrores acontecem e das legislações coniventes com o aborto, da qual todas as maravilhas emanam.

Por fim, é imoral quem, defendendo que se legalize algo, se ofenda e fuja ao receber o nome que tal defesa lhe confere por direito.
Talvez nem todos que defendam a legalização do aborto sejam abortistas, mas é lógico e óbvio concluir que é mais aplicável o termo a quem faz tal defesa do que aos que lhe dirigem oposição.
É como aceitar que nem todos os que lutaram pela legalização do partido comunista fossem comunistas, sendo tão esperado presumir que os comunistas se incluíssem neste grupo quanto absurdo chamar de comunistas aos que defendiam que o partido permanecesse na ilegalidade.

Se os defensores da legalização do aborto querem distância da palavra que melhor resume sua causa, devem ter seus motivos, os quais conhecem melhor que ninguém e deste conhecimento tiram suas motivações para agir como agem.

Findo esta demonstração sobre a imoralidade do argumento analisado lembrando que somente o ser humano individual, na consciência de si mesmo e de seus semelhantes encontra a justificativa final de sua própria dignidade que lhe permite reconhecê-la nos demais Homens.

Nenhuma teoria ou instituição coletiva científica ou política pode substituir a consciência individual neste processo.

É nesta consciência individual que as respostas à polêmica do aborto devem ser buscadas, resistindo às sereias ideológicas cujo canto tem o poder de convencer os pobres de espírito de que esta ou aquela posição está na moda e incensará os que se alinharem a ela com a aceitação dos bem vistos e o fortalecimento de seus egos.

Que nossa humanidade fale mais alto em cada um, seja qual for a resposta a que cheguem.

Provando um argumento abortista como estúpido e sem-vergonha – parte 7.

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 30 Mar 2007, 15:58

Considerações finais sobre a estupidez do argumento:

Assim sendo a designação de abortistas encaixa perfeitamente naqueles que querem que o aborto clandestino continue de boa saúde a tratar as mulheres e os fetos como se tratam as costelas de borrego num talho, efectuando sanguináriamente abortos em qualquer estado de gravidez, sem qualquer respeito por nada nem ninguém, onde impera o lucro. Assim facilmente se chega á conclusão que é muito mais simples abortar num país onde a lei o proíbe do que num país onde a lei o despenaliza e não liberaliza.

Abortistas são todos aqueles que compactuam com o aborto clandestino!

Por que o argumento é estúpido:

O argumento é estúpido porque não é um argumento, dado não apresentar nenhum nexo lógico entre premissas e conclusões que demonstre a veracidade das afirmações em pauta.

É verdadeira a primeira frase, que diz que abortistas são os que querem que os abortos clandestinos continuem, embora não tenha qualquer relação com os temas postos, dado que é simplesmente absurdo atribuir tal intenção aos que defendem que o aborto deve continuar sendo crime e quem o praticar ilegalmente deve sofrer as penas da lei, sendo corrigidos os fatores de ineficácia que impedem que tais punições sejam aplicadas onde, quando e como devido.

No argumento segue-se uma conclusão autoqualificada como "fácil", o que talvez seja, embora de modo algum verdadeira, ao dizer que: "é muito mais fácil abortar num país onde a lei o proíbe do que num onde a lei o despenaliza e não liberaliza" insistindo no erro de igualar conseqüências da proibição em si com conseqüências da ineficácia de seu cumprimento, além de todas as detalhadas refutações postas nas partes anteriores desta análise.

Por fim, em sua última declaração o argumento chama de abortistas aos que combatem a legalização do aborto, fugindo assim de um nome que parece incomodá-los a ponto de não suportar vê-lo aderido às suas faces. Mais ainda, tentam lançá-lo sobre seus opositores como se junto da alcunha transferissem a eles quaisquer incertezas e dúvidas sobre a causa que defendem, sobre as terríveis conseqüências que as acompanham e sobre si próprios.

A psicologia analítica chama tal fenômeno de projeção, embora queiram os que leram até aqui considerar este comentário como um apêndice complementar, independente da demonstração feita sobre a estupidez do argumento analisado, a qual consideramos completa e a encerramos como devido.

quod erat demonstrandum.

Provando um argumento abortista como estúpido e sem-vergonha – parte 6.

Por Acauan Guajajara

Postado originalmente em 30 Mar 2007, 15:08

Seguindo com a terceira afirmação:

Ser contra a regulamentação da I.V.G. em parâmetros minimamente consensuais leva à continuidade de números de aborto elevados, sendo estes números apenas especulações e não objectivos. Porquê? Porque nenhuma mulher irá a um hospital preencher uma ficha a dizer que abortou clandestinamente e que é criminosa e que deve submeter-se a um julgamento e possível prisão. Os números conhecidos provêm das mulheres que morreram em complicações derivadas do aborto clandestino, ou que foram a um Hospital por complicações menores. Factores como violação entram em várias leis de vários países em que não é despenalizada a I.V.G.. Na maioria dos casos nem o caso de violação é levado em conta, pois as excepções não conseguem ser geridas em virtude dessa mesma penalização. Várias mulheres violadas tentaram em vão abortar, mas antes dos processos juridicos e médicos chegarem a um consenso de quem é o pai, se ela foi mesmo violada, como um hospital irá gerir uma I.V.G. se esta é proibida, para além dos paralelos processos se perderem nas burocracias. Quando o veredicto chega já a criança nasceu.

Porque o argumento é sem-vergonha:

O argumento é sem-vergonha porque mentiroso.
Atribui verdade completa a conclusões tiradas de dados sobre os quais sabe e declara não ter garantia de serem verdadeiros.

Provando um argumento abortista como estúpido e sem-vergonha – parte 5.

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 30 Mar 2007, 15:00

Passando à terceira afirmação:

Ser contra a regulamentação da I.V.G. em parâmetros minimamente consensuais leva à continuidade de números de aborto elevados, sendo estes números apenas especulações e não objectivos. Porquê? Porque nenhuma mulher irá a um hospital preencher uma ficha a dizer que abortou clandestinamente e que é criminosa e que deve submeter-se a um julgamento e possível prisão. Os números conhecidos provêm das mulheres que morreram em complicações derivadas do aborto clandestino, ou que foram a um Hospital por complicações menores. Factores como violação entram em várias leis de vários países em que não é despenalizada a I.V.G.. Na maioria dos casos nem o caso de violação é levado em conta, pois as excepções não conseguem ser geridas em virtude dessa mesma penalização. Várias mulheres violadas tentaram em vão abortar, mas antes dos processos juridicos e médicos chegarem a um consenso de quem é o pai, se ela foi mesmo violada, como um hospital irá gerir uma I.V.G. se esta é proibida, para além dos paralelos processos se perderem nas burocracias. Quando o veredicto chega já a criança nasceu.

Porque o argumento é estúpido:

O argumento é estúpido, primeiro, por reincidir no erro já apontado de afirmar que ser contra a liberação do aborto equivale a ser a favor dos efeitos colaterais indesejáveis decorrentes da ineficácia da proibição.

Mas o principal indicativo de estupidez do argumento, no parágrafo destacado e em todo o texto, é a contradição existente entre afirmar explicitamente que são meramente especulativos os dados sobre abortos clandestinos intensiva e extensivamente utilizados como fundamentais na defesa da legalização do aborto.
Se o próprio argumento reconhece que se fundamenta em dados meramente especulativos, tem-se que todas as suas conclusões não podem ser mais confiáveis que os dados que as sustentam.

Em contradição a esta obviedade, o argumento sustenta conclusões definitivas sobre dados que admite especulativos, como no início do parágrafo, quando afirma taxativamente que ser contra a legalização do aborto implica na manutenção de seus altos números, sendo que a afirmação registra uma certeza tirada de números que o próprio argumento declara incertos.

O argumento não apenas registra a pouca confiabilidade dos números especulativos de que se vale, como explica o mecanismo que torna estes números pouco confiáveis, sem apresentar em nenhum momento a fórmula que transformaria estes dados especulativos e obtidos sob condições que não lhes afere confiabilidade em totalizações confiáveis, passíveis de ser utilizadas como elemento de propaganda e reivindicação, como é feito pelos defensores da legalização do aborto.