Por Acauan Guajajara
Publicado originalmente em 28/10/2005 23:14:00
Eu era uma criança quando Egito e Síria atacaram o Estado de Israel no Yom Kippur.
Lembro de ter comentado com meus amigos: Estou torcendo por Israel.
Por resposta tive "todos estamos".
Bons tempos aqueles em que meninos discutiam geopolítica.
Dias depois daquele, as forças de Israel avançavam decididas rumo a Damasco.
Foram detidas, não por qualquer resistência militar dos sírios, mas pelo ultimato da União Soviética, que deixara claro que interveriria para impedir que seus aliados no Oriente Médio sofressem mais uma derrota humilhante.
Eu e os demais meninos bem informados da época não sabíamos que, por conta do tal ultimato, enquanto estudávamos nossas lições as forças armadas dos Estados Unidos da América haviam entrado em DEFCOM 3, o estado de alerta que colocava o mundo a dois passos da guerra termonuclear global.
Hoje, diante das declarações do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad de que Israel deve ser varrido do mapa, me lembro e pergunto por que crianças que deveriam estar mais interessadas nas aventuras do super-herói do momento se posicionavam a favor de uma nação da qual sabiam tão pouco.
No meu caso, complementa-se esta com a pergunta de por que tal simpatia por um pequeno país com o qual não tinha a mais mínima afinidade cultural se manteve até hoje.
Demorou décadas até ter a resposta simples, tirada das palavras recentes do presidente do Irã.
O Estado de Israel é uma democracia que não prega que qualquer outro país ou povo deva ser varrido do mapa.
Isto explicaria, em princípio, a simpatia.
Definitivamente para o Estado Judeu, um povo que foi sentenciado por um ditador paranóico a ser varrido do mapa, mas que sobreviveu e construiu um país que quer apenas sobreviver.
Eretz Israel.
A Terra de Israel.
Uma terra muito distante da inocência, como gritam as vítimas de Deir Yassin, Sabra e Chatila.
Mas ainda assim uma terra onde foi construído o improvável.
Nascida no deserto, uma nação próspera, erigida sob o ideal de que o Estado existe para garantir a liberdade e a autodeterminação do indivíduo e (por que não repetir?) o direito inalienável da busca da felicidade.
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Tributo a Roberto Campos
Por Acauan Guajajara
Publicado originalmente em 11/10/2005 08:57:00
Roberto Campos foi a grande chance desperdiçada que este país teve.
Foi o homem que nos mostrou o caminho que não seguimos e que poderia ter nos levado ao sucesso como nação.
Campos, como ministro do planejamento do governo Castelo Branco, quando os militares debatiam que modelo desenvolvimentista deviam dar ao país, defendeu vigorosamente o modelo exportador, direcionando investimentos na conquista de mercados externos e de maior participação no comércio mundial.
Venceu a facção que queria um modelo de substituição das importações, que fechou o mercado brasileiro com medidas protecionistas que corroeram completamente a competitividade internacional da nossa indústria.
Enquanto o Brasil decidia por tal rumo, a Coréia do Sul optava pelo modelo exportador.
Ninguém na época prestou atenção nos coreanos, um povo perdido em um pequeno e dividido país lá do fim do mundo, de escassos recursos e sob a ameaça constante de ser tragado pelos comunistas. Muito diferente do gigante sul americano no auge de suas pretensões de tornar-se uma grande potência, que às vésperas do milagre econômico tinha uma base industrial poderosa e em franco crescimento, apoiada pela abundância de investimento internacional.
Eram tempos em que nossa produção de automóveis batia recordes ano após ano, enquanto ninguém sequer sabia se na Coréia se fabricavam carros.
Campos não foi ouvido. Deu no que deu.
Roberto Campos também defendeu nos anos sessenta a criação de um banco central independente, bandeira levantada hoje, ironia das ironias, pelo governo do PT.
Sua posição renhida de que a moeda deveria ter um guardião, de novo, se vencedora, teria nos livrado dos dez anos de hiperinflação que destruíram a esperança deste país fechar o século XX como uma economia desenvolvida.
Cada vez que a voz da estupidez falava do trono e obtinha o apoio delirante da plebe ignara, a voz contrária e dissonante era sempre a dele, sem se importar com o impacto de tais posições em sua popularidade e não ligando a mínima para o que era o pensamento da maioria.
Quando os governos militares iniciaram a estatização da economia, com o aplauso da direita nacionalista e da esquerda estatista, Campos foi contra.
Quando criaram a reserva de mercado da informática, com o aplauso da direita nacionalista e da esquerda estatista, Campos foi contra.
Quando lançaram o Plano Cruzado, com o congelamento de preços sendo aclamado nas ruas como a decisão política brasileira mais popular em décadas, Campos foi imediatamente contra.
Não me lembro de uma única posição defendida por Roberto Campos que décadas depois não tivesse sido reconhecida como a melhor opção, referendada até por aqueles que seriam os últimos de quem se esperar tal referendo, como é o caso da política econômica do ministro Palocci, que tem por prioridade o controle do déficit público e a contenção da inflação, prioridades sempre defendidas pelo velho diplomata.
E como os brasileiros se lembram hoje de Roberto Campos?
A maioria não sabe quem foi, quem lembra associará seu nome à direita e aos militares. Alguns se lembrarão de seu apelido - Bob Fields - dado por aqueles que o viam como um agente do imperialismo ianque, idéia tão estúpida que ainda é repetida pelos estúpidos de hoje.
Resta esperar o julgamento da História, que mais cedo ou tarde dirá que Roberto Campos foi um grande brasileiro, que mostrou que este país também poderia ser grande se não tivesse no timão pilotos mais dispostos a guiar o barco para onde cantam as sereias do que para onde apontam os Ulisses.
Roberto de Oliveira Campos foi nosso Ulisses.
Publicado originalmente em 11/10/2005 08:57:00
Roberto Campos foi a grande chance desperdiçada que este país teve.
Foi o homem que nos mostrou o caminho que não seguimos e que poderia ter nos levado ao sucesso como nação.
Campos, como ministro do planejamento do governo Castelo Branco, quando os militares debatiam que modelo desenvolvimentista deviam dar ao país, defendeu vigorosamente o modelo exportador, direcionando investimentos na conquista de mercados externos e de maior participação no comércio mundial.
Venceu a facção que queria um modelo de substituição das importações, que fechou o mercado brasileiro com medidas protecionistas que corroeram completamente a competitividade internacional da nossa indústria.
Enquanto o Brasil decidia por tal rumo, a Coréia do Sul optava pelo modelo exportador.
Ninguém na época prestou atenção nos coreanos, um povo perdido em um pequeno e dividido país lá do fim do mundo, de escassos recursos e sob a ameaça constante de ser tragado pelos comunistas. Muito diferente do gigante sul americano no auge de suas pretensões de tornar-se uma grande potência, que às vésperas do milagre econômico tinha uma base industrial poderosa e em franco crescimento, apoiada pela abundância de investimento internacional.
Eram tempos em que nossa produção de automóveis batia recordes ano após ano, enquanto ninguém sequer sabia se na Coréia se fabricavam carros.
Campos não foi ouvido. Deu no que deu.
Roberto Campos também defendeu nos anos sessenta a criação de um banco central independente, bandeira levantada hoje, ironia das ironias, pelo governo do PT.
Sua posição renhida de que a moeda deveria ter um guardião, de novo, se vencedora, teria nos livrado dos dez anos de hiperinflação que destruíram a esperança deste país fechar o século XX como uma economia desenvolvida.
Cada vez que a voz da estupidez falava do trono e obtinha o apoio delirante da plebe ignara, a voz contrária e dissonante era sempre a dele, sem se importar com o impacto de tais posições em sua popularidade e não ligando a mínima para o que era o pensamento da maioria.
Quando os governos militares iniciaram a estatização da economia, com o aplauso da direita nacionalista e da esquerda estatista, Campos foi contra.
Quando criaram a reserva de mercado da informática, com o aplauso da direita nacionalista e da esquerda estatista, Campos foi contra.
Quando lançaram o Plano Cruzado, com o congelamento de preços sendo aclamado nas ruas como a decisão política brasileira mais popular em décadas, Campos foi imediatamente contra.
Não me lembro de uma única posição defendida por Roberto Campos que décadas depois não tivesse sido reconhecida como a melhor opção, referendada até por aqueles que seriam os últimos de quem se esperar tal referendo, como é o caso da política econômica do ministro Palocci, que tem por prioridade o controle do déficit público e a contenção da inflação, prioridades sempre defendidas pelo velho diplomata.
E como os brasileiros se lembram hoje de Roberto Campos?
A maioria não sabe quem foi, quem lembra associará seu nome à direita e aos militares. Alguns se lembrarão de seu apelido - Bob Fields - dado por aqueles que o viam como um agente do imperialismo ianque, idéia tão estúpida que ainda é repetida pelos estúpidos de hoje.
Resta esperar o julgamento da História, que mais cedo ou tarde dirá que Roberto Campos foi um grande brasileiro, que mostrou que este país também poderia ser grande se não tivesse no timão pilotos mais dispostos a guiar o barco para onde cantam as sereias do que para onde apontam os Ulisses.
Roberto de Oliveira Campos foi nosso Ulisses.
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