sábado, 2 de abril de 2016

Sobre uma tal Lei de Godwin

As analogias com o nazismo podem ser pouco úteis como instrumento de propaganda política, o que não muda o fato de serem muito didáticas.

A popularização da tal Lei de Godwin pela Internet afora criou o cacoete de que citar o nazismo é necessariamente um argumento inferior.
Sem dúvida é um argumento inferior quando não é argumento, como nos casos em que esquerdistas apelidam de "nazi" qualquer um que esteja um milímetro à direita das posições políticas deles.

Fora desta esfera banal, o nazismo é um modelo quase infindável para comparações não por sua face mais conhecida - o terror absoluto, absolutamente documentado.
O nazismo é didático por ser uma experiência histórica extremamente compacta.
Transformações políticas e sociais que em circunstâncias normais demorariam décadas para se consolidar na Alemanha nazista se desenvolveram em anos e, algumas delas, em semanas ou mesmo dias (compare a Alemanha de um mês antes e de um mês depois do incêndio do Reichstag).
Neste cenário único e fartamente documentado, relações políticas de causa e efeito que se diluíriam ao longo de décadas se mostram tenebrosamente límpidas, com todas as terríveis conclusões nas quais implicam.

E olha que Hitler, Goebbels, Goering e restante da quadrilha não eram exatamente gênios da estratégia política. Que Hitler tinha seus talentos é inegável, nenhum cabo do exército constrói uma carreira tão assustadoramente meteórica sendo um bunda mole, mas cada vez que buscamos seu grande plano estratégico encontramos apenas uma decisão férrea de conquistar o poder e impor sua visão maluca de mundo. Como esta decisão se tornou em realidade é uma sucessão de improvisos e apostas radicais por parte dos nazistas e um acúmulo de vacilos, trapalhadas e recuos da parte dos que deviam ter resistido.

Por isto a experiência nazista é um laboratório histórico subestimado, talvez por ensinar tanto sobre processos revolucionários e seus perigos, para desagrado dos que gostam de processos revolucionários, estejam eles à direita ou esquerda no espectro político.

Nenhum comentário:

Postar um comentário