quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Comentários sobre a educação pública no Brasil - parte 4

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 09/07/2007 às 22:23

O erro mais comum nas muitas análises sobre causas e soluções do problema do ensino público brasileiro é que a maioria se atém a elementos operacionais do sistema – volume de verbas, remuneração dos professores, métodos pedagógicos e pouco se fala do fundamental, as filosofias que orientam a formulação das diretrizes.

Estas filosofias estão em parte explícitas na Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, um pastiche ideológico que oficializou com quarenta anos de atraso as propostas de Paulo Freire e outros ideólogos de esquerda da educação, mas sua identificação completa deve ser tirada da práxis da implantação do projeto marxista de educação ao longo deste tempo.

Relembrando dos comentários anteriores, a esquerda desviou o foco educacional da tradição católica do indivíduo que melhora a si mesmo e a partir de si pode melhorar a sociedade, para a ideologia coletivista da sociedade que progride historicamente e, no processo, melhora o indivíduo.

Assim, podemos encontrar nas diferenças entre estas diretrizes a origem da maioria dos problemas da educação pública brasileira.

Diretrizes tradicionais de inspiração católica:

- A função da escola é preservar e transmitir o saber humano acumulado;
- O saber promove a ascese espiritual do indivíduo;
- A educação conscientiza o homem de seus deveres e responsabilidades individuais.

Diretrizes coletivistas de inspiração marxista:

- A função da escola é conscientizar as massas;
- A escola deve promover a mudança social;
- A educação deve preparar as classes exploradas para seu papel histórico.

As primeiras coisas que os brasileiros devem se perguntar quando analisam o fracasso do sistema público de ensino são porque não mudam o sistema?
Por que os teóricos que o desenharam não são repudiados e suas propostas abandonadas e substituídas por alguns dos muitos outros modelos internacionais bem sucedidos, inclusive em países pobres?
Por que vemos estes mesmos teóricos preservando altos cargos na hierarquia burocrática estatal do ensino, dando entrevistas defendendo seus modelos, ao mesmo tempo que apontam soluções para os problemas da educação como se eles próprios não tivessem nada a ver com eles?

A resposta é que para os teóricos de esquerda o modelo é um sucesso, dado que seu objetivo não é ensinar alunos, trazê-los da ignorância e pô-los em contato com o legado do gênio humano a partir de onde poderão encontrar modelos em que se inspirar para realizar seu pleno potencial como seres humanos.

Estes são valores da educação tradicional, que os pais desejam para seus filhos, mas não que os ideólogos desejam para a "massa estudantil" que para eles é massa de manobra para a "mudança social", o verdadeiro e único objetivo de seu modelo, que pouco se importa se o filho da D. Maria sabe ou não sabe interpretar textos simples quando chega ao nível médio.

Quando expulsaram da escola pública a excelência, disciplina e civismo, rechaçados como elitismo, repressão e ditatorialismo prepararam o terreno passo a passo para a ignorância generalizada, a falta de respeito dos alunos para com professores e a instituição escolar e o desprezo pela própria Pátria, a qual não encontrava mais nas salas de aula quem a enaltecesse ou defendesse.

Na origem de todo o mal está o abandono da tradição de que o homem educado tem mais deveres e responsabilidades do que o homem ignorante.
Em outros tempos, um homem instruído que apresentasse comportamentos socialmente reprováveis era repreendido com a frase "você estudou e se comporta como um ignorante?".
Estudar significava assumir MAIS deveres sociais.

Nos ideário esquerdista, estudar significa ser conscientizado dos direitos sociais que deve reivindicar e apenas dos direitos.

Deve ser óbvio a todos qual das duas diretrizes produz uma sociedade melhor.

Um comentário:

  1. Lendo em 2018.....quase choro, ao aprender mais sobre a construção do atual estado de coisas na educação pública no Brasil.

    Fui uma privilegiada, estudando a vida inteira - do jardim de infância à universidade - na rede particular de ensino de qualidade do nosso país. Mas tenho profundo interesse em saber como servir minha pátria e compatriotas do alto do meu privilégio..tua série sobre a educação pública será útil. Agradeço pelo teu trabalho!

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