quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Provando um argumento abortista como estúpido e sem-vergonha – parte 2.

Por Acauan Guajajara

Postado originalmente em 30 Mar 2007, 11:08

Continuando com a afirmação comentada na parte 1:

É muito mais óbvio atribuir o termo "abortistas" ao defensores da proibição da I.V.G. visto que esta proibição na maioria dos casos acarreta um número elevado de abortos, tanto pela facilidade de recurso a um aborto clandestino em qualquer esquina, como pelo grau de responsabilidade ser menor, visto poder estar fora dos olhos da sociedade.

Porque o argumento é sem-vergonha:

Como dito, um argumento é sem-vergonha quando lhe falta moral.

O aborto não é polêmico enquanto discussão científica sobre as capacidades ou potencialidades neurológicas do embrião e do feto, e sim como questão moral, que confronta o direito potencial da mulher de renunciar a uma gravidez indesejada contra a limitação a este direito estabelecida pela existência de outra vida humana na questão, cujo ciclo de vida individual já foi iniciado.

Questões morais muitas vezes não nos permitem o conforto da escolha fácil entre o BEM pleno e o mal absoluto.
As polêmicas surgem quando as escolhas se situam na zona cinzenta onde se deve optar entre um mal maior e um mal menor, sem ter certeza sobre a veracidade dos métodos que definem qual é qual.

Nestas situações há três posturas morais possíveis:

1. Não assumir posição, mantendo-se neutro;
2. Assumir uma posição e suas conseqüências, negativas e positivas;
3. Assumir uma posição e suas conseqüências positivas, mas negar-se a assumir as negativas.

Os que assumem a primeira posição, a da neutralidade, respondem moralmente por ela conforme o caso, dado que esta neutralidade pode ter vários motivos, que vão da comodidade ou conveniência ao sincero interesse de conhecer melhor a questão antes de decidir, visando prevenir uma tomada de posição incorreta.

Os que optam por assumir uma posição e suas conseqüências, positivas e negativas, enfrentam sempre o risco de haver tomado a posição errada, mas terão ao seu favor o reconhecimento de que tiveram a coragem moral de assumir uma decisão e suas conseqüências, quando era necessário que se fizesse isto.

O terceiro caso apresenta uma deficiência moral óbvia, dado que os que optam por ela aceitam apenas os benefícios da posição assumida, mas não os seus ônus, uma atitude claramente desonesta.

O argumento de que os favoráveis a proibição do aborto são abortistas coloca os defensores da legalização que se valem dele na terceira posição, moralmente classificáveis como acima posto.

Quem defende a proibição do aborto deve assumir consciente e necessariamente que muitas mulheres sofrerão problemas em decorrência disto e, possivelmente, muitas crianças nascidas indesejadas também.

Quem defende a legalização do aborto deve assumir que negou todas as chances de existência a muitas vidas humanas com o ciclo já iniciado e definido, renunciando a buscar alternativas a esta extrema.

Cada qual, dentro da honestidade de suas posições, deve assumir sua parcela de responsabilidade no que entende como o mal menor da questão, mesmo acreditando que o mal maior foi evitado.

Quando o argumento analisado tenta transferir para os defensores da proibição responsabilidades que não lhes cabem, como demonstrado na postagem anterior, na verdade querem isentar a si próprios do impacto negativo de suas decisões, apresentando-se a si próprios como defensores de todo o BEM e a seus adversários como portadores de todo o mal.

A verdadeira honra de uma causa reside justamente em assumir os ônus que traz.
A imoralidade do argumento reside em sua tentativa de criar uma realidade falsa onde se possa defender uma causa sem que nenhum ônus advenha dela, através da simples transferência deste ônus para os que defendem a posição oposta, utilizando para isto, no caso analisado, de uma retórica falha, lógica e moralmente, como demonstrado.

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