quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Provando um argumento abortista como estúpido e sem-vergonha – parte 1

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 30 Mar 2007, 10:23

Argumento abortista:

É muito mais óbvio atribuir o termo "abortistas" ao defensores da proibição da I.V.G. visto que esta proibição na maioria dos casos acarreta um número elevado de abortos, tanto pela facilidade de recurso a um aborto clandestino em qualquer esquina, como pelo grau de responsabilidade ser menor, visto poder estar fora dos olhos da sociedade. Recorrendo ao aborto clandestino uma mulher pode desprezar qualquer responsabilidade pois não enfrenta qualquer tipo de reflexão, simplesmente paga e faz. Estes acontecimentos fazem com que várias mulheres abortem clandestinamente várias vezes, pois não possuem qualquer tipo de pressão social em foco da responsabilidade Humana. É só pagar e fazer. Ser contra a regulamentação da I.V.G. em parâmetros minimamente consensuais leva à continuidade de números de aborto elevados, sendo estes números apenas especulações e não objectivos. Porquê? Porque nenhuma mulher irá a um hospital preencher uma ficha a dizer que abortou clandestinamente e que é criminosa e que deve submeter-se a um julgamento e possível prisão. Os números conhecidos provêm das mulheres que morreram em complicações derivadas do aborto clandestino, ou que foram a um Hospital por complicações menores. Factores como violação entram em várias leis de vários países em que não é despenalizada a I.V.G.. Na maioria dos casos nem o caso de violação é levado em conta, pois as excepções não conseguem ser geridas em virtude dessa mesma penalização. Várias mulheres violadas tentaram em vão abortar, mas antes dos processos juridicos e médicos chegarem a um consenso de quem é o pai, se ela foi mesmo violada, como um hospital irá gerir uma I.V.G. se esta é proibida, para além dos paralelos processos se perderem nas burocracias. Quando o veredicto chega já a criança nasceu. Assim sendo a designação de abortistas encaixa perfeitamente naqueles que querem que o aborto clandestino continue de boa saúde a tratar as mulheres e os fetos como se tratam as costelas de borrego num talho, efectuando sanguináriamente abortos em qualquer estado de gravidez, sem qualquer respeito por nada nem ninguém, onde impera o lucro. Assim facilmente se chega á conclusão que é muito mais simples abortar num país onde a lei o proíbe do que num país onde a lei o despenaliza e não liberaliza.

Abortistas são todos aqueles que compactuam com o aborto clandestino!

Provando um argumento como estúpido e sem-vergonha

Um argumento é estúpido quando lhe falta inteligência e sem-vergonha quando lhe falta moral.
As duas carências podem ser demonstradas no texto acima a partir de suas próprias contradições, sem necessidade de recorrer a dados externos, mesmo que alguns possam ser citados como complemento da demonstração.

Tomando a primeira afirmação:

É muito mais óbvio atribuir o termo "abortistas" ao defensores da proibição da I.V.G. visto que esta proibição na maioria dos casos acarreta um número elevado de abortos, tanto pela facilidade de recurso a um aborto clandestino em qualquer esquina, como pelo grau de responsabilidade ser menor, visto poder estar fora dos olhos da sociedade.

Porque o argumento é estúpido:

O argumento de que o termo "abortista", no significado de partidário do aborto é mais obviamente atribuível aos que defendem sua proibição é estúpido porque se sustenta sobre uma lógica falsa, que parte de uma premissa falsa e termina com uma desconexão evidente entre premissa e conclusão baseada no silogismo abaixo:

Se a proibição do aborto provoca aumento do número de abortos
E se há pessoas que apóiam a proibição
Então as pessoas que apóiam a proibição também apóiam o aborto.

Este silogismo é, obviamente, falho e qualquer argumento que se sustente nele é estúpido primeiro porque parte de uma premissa falsa.
Mesmo que se admita como verdadeiros os dados que correlacionam proibição e aumento do número de abortos – o que não está se fazendo ou deixando de fazer aqui – a premissa ainda seria falsa, pois o que levaria ao aumento do número de abortos seria a ineficácia da proibição e não a proibição em si, tanto quanto é a ineficácia do combate ao crime que promove seu crescimento e não, obviamente, a proibição da atividade criminosa.

Estabelecer uma correlação necessária entre ineficácia da proibição com necessidade de legalização, se aceito como logicamente válido, implica em propor a legalização de todos os crimes cuja repressão é ineficaz, sob o argumento de que a proibição é a causa de seu aumento.

Seguindo na demonstração da estupidez do silogismo usado como base do argumento, mesmo que a premissa fundamental não fosse incorreta como é, a inferência que leva da premissa à conclusão também é logicamente falha.

Dizer que:

Se a proibição do aborto provoca aumento do número de abortos
E se há pessoas que apóiam a proibição
Então as pessoas que apóiam a proibição também apóiam o aborto.

Implica em afirmar que se uma determinada ação possui efeitos colaterais indesejados, os que apóiam a ação necessariamente apóiam seus efeitos colaterais.
Se admitida como válido que a concordância com o ato implica na concordância com seus efeitos colaterais, então poderíamos montar o seguinte silogismo análogo ao primeiro:

Se o desenvolvimento de vacinas implica em teste cruéis com animais
E se há pessoas que apóiam o desenvolvimento de vacinas
Então as pessoas que apóiam o desenvolvimento de vacinas apóiam a crueldade com animais.

O absurdo é evidente, pois as pessoas podem apoiar o desenvolvimento de vacinas e ser contra a crueldade com animais e ser favorável a medidas que, sem eliminar as vacinas encontre alternativas para os testes cruéis. Este mesmo raciocínio vale, obviamente, para os alegados efeitos colaterais indesejados da proibição do aborto, que, também obviamente, são repudiados pelos defensores da proibição, que defendem soluções também para este problema que não a liberação pura e simples.

Queiram me desculpar os freqüentadores do fórum que dominam os fundamentos da lógica e podem se considerar menosprezados por uma contra-argumentação ter que descer a níveis tão iniciantes.

Mas, por vezes, isto é necessário, como se vê.

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